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Thursday, March 15, 2007

A versão de Collor


Fernando Collor de Melo (PTB-AL) tentou reescrever a história do seu impeachment em discurso que fez no Senado durante mais de três horas.
Explorou as evidentes falhas e imperfeições do processo legislativo que resultou na sua cassação. E se disse vítima de uma conspiração das forças políticas da época.

A única autocrítica que se permitiu foi a de ter tido "um comportamento não adequado" em relação ao Congresso. Deveria ter dado mais atenção a deputados e senadores, observou.
Collor passou ao largo da relação promíscua que manteve com PC Farias, o ex-tesoureiro de sua campanha a presidente. PC extorquiu dinheiro de empresários em troca de favores governamentais e pagou despesas da família Collor.

E Collor não disse uma palavra sobre o que passou à História como "Operação Uruguai" - um falso empréstimo de US$ 5 milhões com o qual justificou gastos para reformar a Casa da Dinda, onde morava em Brasília.
Na verdade, ele foi cassado por conduta não compatível com a dignidade do cargo que ocupava. Pela mesma razão, o presidente dos Estados Unidos Richard Nixon renunciou ao cargo em 1974.
Nixon mentiu à Nação quando negou seu envolvimento com o Caso Wartergate - o episódio de espionagem do escritório do Partido Democrata em Washington.
Collor também mentiu à Nação.

A Comissão de Constituição e Justiça do Congresso norte-americano decidiu por unanimidade (40 votos) que impeachment é um ato político, não jurídico.
Aqui, prevaleceu o mesmo entendimento no Congresso.
Nixon evitou o impeachment renunciando. Collor renunciou - mas o Senado preferiu cassar-lhe os direitos políticos por 10 anos, tornando-o inelegível.
O sucessor de Nixon, Gerald Ford, anistiou-o.

Collor foi eleito senador por Alagoas no ano passado. Nem por isso se pode dizer - como disseram vários senadores esta tarde - que ele foi na prática anistiado.
Pelos alagoanos, sim. Por alguns dos seus fraternos colegas, também. Mas por ora é só.

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