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Monday, May 28, 2007

Interrogação sobrevive à defesa de Renan Calheiros

Como previsto, Renan Calheiros (PMDB-AL), discursou no Senado, na tarde desta segunda-feira (28). Defendeu-se da acusação de que se servira de recursos de um lobista de empreiteira para pagar despesas decorrentes de uma relação extraconjugal. Relação da qual resultou o nascimento de uma filha. Algumas interrogações sobreviveram ao discurso. Manda o interesse público que sejam elucidadas urgentemente.

O escrutínio minucioso dos dados interessa especialmente a Renan. A um presidente de Legislativo, obviamente, não convém o convívio com a dúvida. Por isso, vão abaixo os pontos de interrogação que continuaram boiando no plenário do Senado depois da manifestação do senador:

1. Renan foi detalhista em relação aos fatos ocorridos depois de dezembro de 2005. Nesse mês, ele reconheceu formalmente a paternidade da filha que teve com a jornalista Mônica Veloso. Passou a pagar, então, pensão de R$ 3 mil à criança. Deu-se, segundo disse, por meio de chegue do Banco do Brasil, nos dois primeiros meses. A partir de 2006, afirmou, a importância passou a ser deduzida de seu contracheque no Senado;

2. Antes disse, informou Renan, vinha prestando assistência à jornalista em valor maior: R$ 8 mil, mais o aluguel, primeiro de uma casa e depois de um apartamento, cujos valores esquivou-se de mencionar. Segundo a reportagem de Veja, que motivou a defesa, o desembolso do senador era maior: R$ 16.500, desdobrados em R$ 12 mil de pensão e R$ 4.500 do aluguel. Renan não negara esses valores antes, nem mesmo na nota oficial que divulgara na última sexta (25). Limitara-se a afirmar que o dinheiro saíra de seu bolso. No discurso, porém, esgrimiu cifras diferentes.

3. Diferentemente do que fez em relação às despesas posteriores a 2005, o senador eximiu-se de mencionar de qual banco saíram os recursos entregues à jornalista na fase anterior ao reconhecimento da paternidade. Limitou-se a reafirmar que saíram do seu bolso. E exibiu as declarações de IR, para demonstrar que tinha capacidade financeira para arcar com as despesas. O esclarecimento cabal do episódio pede que sejam esmiuçados todos os desembolsos. Qual a conta bancária? Quais os números dos cheques?

4. Renan esquivou-se, de resto, de esclarecer um outro tópico da reportagem de Veja. A notícia informara que, afora as despesas pessoais, o lobista Cláudio Gontijo, da Mendes Júnior, colocara à disposição do presidente do Congresso um flat no hotel Blue Tree. O texto é específico. Traz até o número do apartamento: 2.018. Sobre isso, não se ouviu uma mísera palavra do senador.

5. O presidente do Senado deixou sem resposta, de resto, o noticiário acerca de seu relacionamento com Zuleido Veras, o chefão da máfia das obras públicas. Em verdade, o escândalo da Navalha não foi nem mesmo mencionado. O nome do empreiteiro tampouco foi citado. Nenhuma referência também às escutas telefônicas em que Renan é citado à farta.

Terminado o discurso, Renan socorreu-se de uma providencial intervenção de Romero Jucá (PMDB-RR), para evitar os apartes dos colegas. Jucá pediu a suspensão da sessão, para que Renan pudesse ser cumprimentado. Foi prontamente atendido. E seguiu-se a fila de cumprimentos.

No pronunciamento, o presidente do Senado preocupou-se em arrastar para o campo pessoal a “pseudodenúncia” de que diz ter sido vítima. Tem, em parte, razão. O relacionamento extraconjugal em que se viu enredado não interessa senão a ele própria e a sua família. Mas foi o próprio senador que aceitou o risco de transformar o privado em público ao injetar no caso um personagem ligado a empreiteira com negócios na esfera governamental.

Assim, urge que o problema seja acomodado em pratos definitivamente limpos. O foro adequado para que isso seja feito é, num primeiro momento, a Corregedoria do Senado, a quem cabe analisar os dados abertos por Renan Calheiros.
Escrito por Josias de Souza às 18h16

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