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Friday, October 12, 2007

Lula queria licença de 120 dias; Renan só topou 45

Senador tem receio de ser abandonado à própria sorte

Sem ajuda, ameaça voltar a tempo de atrapalhar CPMF

Planalto pedirá ao PT que evite a “hostilidade gratuita”



Ueslei Marcelino/Folha




O governo estima que, no Senado, a votação da emenda da CPMF, em dois turnos, será concluída entre os dias 5 e 20 de dezembro. Para evitar percalços, Lula e seus operadores políticos defenderam reservadamente que Renan Calheiros se licenciasse do cargo por 120 dias. O senador recebeu a sugestão com um pé atrás.



Renan farejou o cheiro de abandono no ar. E decidiu prevenir-se. Encurtou a licença para 45 dias. Durante a negociação que levou ao seu afastamento, deixou claro que, se necessário, pode estender o período da licença. Deu a entender, porém, que, ao menor sinal de puxada de tapete, pode voltar antes do final de novembro.



Embora considere remotas as chances de que Renan retorne ao cargo, nos próximos dias, por recomendação de Lula, o Planalto vai pedir moderação aos partidos governistas com assento no Senado, em especial ao PT. O argumento será o de que Renan, ao licenciar-se, fez o gesto que todos cobravam dele desde a absolvição no primeiro processo, em 12 de setembro. Não haveria mais razões para o que um auxiliar de Lula chamou de “hostilidade gratuita”.



Embora em prazo mais curto do que o planejado, a licença de Renan foi celebrada no Planalto. As digitais de Lula foram impressas no coco de forma indelével. Mas o presidente mandou dizer, por meio da assessoria, que não escalou o coqueiro: "Sempre disse que a crise era do Senado, que a solução deveria vir do Senado e foi o que aconteceu."



Aproveitando-se da interinidade de Tião Viana (PT-AC), o Planalto pretende intensificar as negociações em torno da emenda da CPMF. Nesta quinta-feira (11), o ministro Guido Mantega (Fazenda) tratou de amenizar as declarações belicosas que fizera na véspera. Romero Jucá, líder de Lula no Senado, levou ao Planalto uma planilha em que são computados 43 votos garantidos a favor da emenda. Para aprová-la, o governo precisa de 49. Acha que não terá dificuldades quanto aos votos. Lula revela-se mais preocupado com os prazos.



A relatora da CPMF, Kátia Abreu (DEM-TO), não tem a menor pressa. Embora já tenha firmado posição contra a renovação do imposto do cheque, vai usar os 30 dias que o regimento lhe faculta para a elaboração de seu parecer. O governo encomendou a Romero Jucá a elaboração de um texto alternativo ao da senadora ‘demo’. Em seguida, o governo medirá forças com a oposição na comissão de Justiça e no plenário do Senado.



Simultaneamente, o governo terá de administrar a crise Renan. Inicialmente, o presidente do Senado, agora licenciado, tramava jogar para 2008 a análise dos processos que ainda responde no Conselho de Ética. Nas últimas 48 horas, convenceu-se de que a hipótese de que isso venha a ocorrer, numa escala de zero a dez, situa-se num patamar abaixo de zero.



Renan luta agora para obter, com a ajuda de Lula, a benevolência de seus pares. Alega que já pagou um preço maior do que as culpas que não admite ter. E espera que seu mandato não seja passado na lâmina. Em ultra-reserva, admitiu inclusive a alternativa de renunciar definitivamente ao cargo de presidente do Senado se, em troca do sacrifício, a maioria do Senado concordar em preservar-lhe o mandato e os direitos políticos. Se depender da retórica de líderes oposicionistas, o coco, depois de arrancado, será aberto e triturado.

Escrito por Josias de Souza

1 Comments:

At 3:07 PM, Blogger Vonivar said...

Quem manda no Congresso, são sos Senadores ou Presidente da Republica?

 

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