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Friday, October 12, 2007

Entenda por que Renan deixou o comando do Senado

Há uma semana, instando por um amigo, pela enésima vez, a pedir licença da presidência do Senado, Renan Calheiros lembrou Jader Barbalho: “Se eu deixar o cargo, vou acabar algemado como o Jader”. Referia-se a um episódio (foto) que não lhe sai da cabeça: em 2002, depois de ter renunciado à presidência do Senado, Jader Barbalho, acusado de desvios na Sudam, foi preso pela Polícia Federal. Hoje na Câmara, Jader disse a Renan que, fora da presidência, ele seria “humilhado”.



Ao optar pela licença, em vez da renúncia, Renan tenta atenuar os riscos de que venha a ser vítima do “efeito Jader”. O senador ainda acalenta a esperança de retornar ao cargo. Algo que a oposição tentará evitar a todo custo.



Renan acabou fazendo por pressão o que não fizera por opção. Oficialmente, o Planalto nega interferência. Conversa fiada. Coube a Lula o empurrão derradeiro, que arrancou Renan da cadeira. Preocupado com a CPMF, o presidente pediu que fosse acelerada a articulação para que Renan fosse desalojado. O gesto de Lula forçou o “aliado” a enxergar algo que já se tornara óbvio na última terça-feira (9), dia em que ruiu a estrutura que mantinha o coco pendurado no coqueiro.



A terça-feira fatídica foi um divisor de águas no Senado. Nesse dia, ficou claro que a crise Renan deixara de ser uma briga entre oposição e governo. Convertera-se num movimento suprapartidário de legítima defesa. Consolidou-se a impressão de que, ao espionar e investigar os colegas, Renan extrapolara, fugira ao controle. E precisava ser detido. No plenário, Renan ouviu, entre irritado e constrangido, uma dúzia de exortações para que deixasse o cargo.



Naquele mesmo dia, em conversa com Lula, um senador do PMDB informara ao presidente que a crise mudara de patamar. Ou o governo retirava o apoio a Renan ou a CPMF, que já havia subido no telhado, poderia ser rejeitada. Na quarta, reunido com Romero Jucá, Lula autorizou a operação para compelir Renan à licença.



Depois de uma conversa com o próprio Renan, Jucá reuniu-se com a oposição no gabinete de Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB. Lá estavam, além de Jucá e Virgílio, o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), o espionado Demóstenes Torres (DEM-GO) e dois grão-tucanos: Tasso Jereissati (CE), presidente do PSDB, e Teotônio Vilela Filho, governador de Alagoas.



Jucá queria trocar a licença de Renan pelo compromisso da oposição de preservar o mandato de Renan. Agripino Maia disse que não tinha condições políticas de assumir nenhum tipo de compromisso: “O Renan acusou-me de ter benefícios. Depois, fez insinuações em relação ao meu filho [Felipe Maia]. Se recuar agora, vai parecer que devo alguma coisa. Não tem a menor chance.” Também Tasso e Virgílio recusaram, nesse primeiro contato, a hipótese de composição do PSDB com Renan.



Consultada, Ideli Sanvatti (SC), líder do PT, repassou a Jucá uma impressão diferente: disse que a maioria da bancada de 12 senadores do PT evoluíra para a defesa do afastamento de Renan. Consumado o afastamento, haveria espaço para negociar a imposição de penas mais brandas ou mesmo da absolvição de Renan. Na seqüência, auxiliado por José Sarney (PMDB-AP) e pelo governador Teorônio Vilela, Jucá fez ver a Renan que, permanecendo no cargo, sua cassação era certa. Fora da cadeira, haveria chances de preservação dos direitos políticos. E Renan, finalmente, assentiu.

Escrito por Josias de Souza

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